A atividade econômica mais fraca voltou a puxar para baixo o mercado de trabalho brasileiro, com fechamento de postos com carteira assinada e geração de vagas informais, consideradas de qualidade inferior. Além disso, essas oportunidades não têm sido suficientes, e o número de pessoas desempregadas no Brasil aumentou em quase 1 milhão em um ano. Assim, a taxa de desemprego em todo o País subiu a 8% no trimestre até abril, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
A taxa anunciada na quarta-feira pelo IBGE é a maior da série, iniciada em janeiro de 2012. Apenas no trimestre até março de 2013 observou-se desemprego igualmente em 8%. Nos três meses até abril do ano passado, a taxa estava em 7,1%.
"Isso é reflexo do que aconteceu lá (no PIB). Se não gera trabalho, se a produção reduz, a conseqüência é essa", disse o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. No primeiro trimestre deste ano, o PIB, soma da renda gerada no País, caiu 1,6% ante igual período do ano passado, a maior queda neste confronto desde o segundo trimestre de 2009.
O Brasil gerou 629 mil vagas no trimestre até abril, o que significa avanço de 0,7% no total de pessoas ocupadas no País em relação a igual período do ano passado. Só que o aumento, além de ser menor do que no passado, não foi suficiente para acomodar todos que passaram a buscar trabalho no período. Com isso, a fila de desempregados cresceu em 985 mil - uma alta de 14% na população desocupada, a maior alta já verificada nesta comparação.
O avanço do emprego informal também tem chamado atenção. Enquanto 552 mil pessoas com carteira assinada no setor privado foram demitidas em um ano, 1,024 milhão de pessoas declararam ter passado a trabalhar por conta própria. Essa categoria inclui uma pequena parcela de registrados com CNPJ, como o microempreendedor individual, e uma fatia maior de informais.
"Há dificuldade de permanência do emprego e de geração de novas oportunidades. Então, o cenário que se mostra hoje é de perda de emprego, perda de qualidade de emprego e de uma geração de trabalho informal", afirmou Azeredo.
Rendimento - A piora no emprego não é o único sinal do desaquecimento da economia. O bolso do trabalhador também está ficando mais curto, diante da queda na renda real. No trimestre até abril, o rendimento médio caiu 0,4% em relação a igual período do ano passado, já descontados os efeitos da inflação.
"De fato, os salários estão caindo, mas a queda da renda ainda é modesta", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Ele espera que as perdas fiquem ainda maiores ao longo de 2015, em função do ajuste na economia conduzido pelo governo e da inflação elevada.
Entre as atividades, a construção e a administração pública cortaram, juntas, mais de 1,1 milhão de vagas. Enquanto isso, a indústria contratou 222 mil pessoas no trimestre até abril deste ano ante igual período de 2014, mas o movimento não é visto pelo IBGE como recuperação.